Algumas coisas marcam a infância
de uma criança. A primeira bike, a
primeira Barbie, o primeiro estojo de maquiagem, a primeira viagem de férias e
por ai vai. Para cada um uma lista secreta é guardada no baú da memória. São os
cheiros, alguns encontros e essa tal memória que nos trazem a tona o buque
dessas historias.
Consigo me lembrar bem da
primeira vez que fui visitar uma exposição de dinossauros, lá na Barra da
tijuca. A euforia era tão grande, o coração palpitava. Não via a hora de chegar na Barra e no auge
dos meus 8 anos, tudo era mistério e descoberta.
A “viagem” havia cômeçado em
coelho neto. Saímos da casa da vovó, rumo a cascadura. Dali pra Gávea, da Gávea
pra Barra. A distancia do subúrbio
dentro de uma cidade partida e sem “integrações” era cansativa, mas a paciência
da minha tia era grande, e ela como educadora se esmerava em agradar-nos nas férias.
Durante o caminho, eu aos oito e
meu irmão aos 4 iamos vendo o Rio pela janela do ônibus. Eis que um momento,
depois de um túnel imenso, vejo uma cidade vertical. Um monte casas amontoadas,
muitas cores, muita gente. Aquele mundo me fascinou. Tinha certeza que precisa
entrar, conhecer, desbravar. Era a Rocinha. Aquela imagem, garanto que está na minha
cabeça até hoje. Nunca mais esqueci, confesso que jamais quis apagar essa
imagem da minha cabeça. Aquele primeiro encontro foi mágico.
Hoje, me peguei lembrando disso
tudo, de como foi esse primeiro encontro. E me peguei pensativa, ali no meio do
engarrafamento do aterro do flamengo com uma expectativa sem tamanho, mas com
nome: Rocinha em Off.
Hoje é o lançamento do livro do
meu amigo Carlos Costa. Saí do centro rumo a Rocinha, seria um re encontro com
a comunidade depois de 7 anos sem passar perto. Me peguei relembrando de vários
atalhos e caminhos antes desbravados, de pessoas e encontros ali presenciados,
de historias e lagrimas ali derramadas. Foi um baita encontro!
Desci da estrada da Gávea, rumo
ao ponto final das kombis, ali no largo das flores, perto da TV Roc. Fui vendo
uma Rocinha mais movimentada, com uma energia diferente. Não consegui descobrir
se boa ou não. Fui andando por aquelas ruas me sentindo uma entrusa em casa. Estranha sensação.
Senti falta da quadra da escola
da comunidade, onde acontecia o baile do emoções, senti falta do espaço aberto
da curva do S e deduzo que a Rocinha perdeu dois bons espaços dentro da
comunidade onde haviam shows e festas. Descendo o asfalto, passei na porta da
escola de samba que está transformada. Deó Pessoa, rapaz de bons cliques no
jornal Rocinha Noticias agora é o presidente. Bons ares tinha na porta da
agremiação.
Segui rumo ao centro esportivo. Vi
uma construção diferente, algo meu Niemeyresco, senti falta da cooperativa de
lixo e reciclagem que tinha do lado. Não me certifiquei se ainda está mais escondida. Segui rumo a quadra, me deparo
com um mundarel de gente.
Tantas emoções, tanta gente
bacana, de luta, de historia. Parecia que eu tinha voltado a ser aquela
criança, vistiando a expo dinossauro, há 20 anos atrás.
Senti uma felicidade enorme em
ver o Carlinhos realizando um sonho. ME senti parte daquela historia e um puta
orgulho de há 9 anos fazer parte da vida dele e tê-lo na minha trajetória. Foi
uma noite de reencontros, com pessoas, cheiros, lugares e sobretudo com a minha
memória.
O abraço foi recompensador, um
presente para quem levou 2h para chegar a Rocinha. A dedicatória no livro um
carinho para quem viveu tantas historias nesses 9 anos de amizade.
Valeu Carlinhos, o Rocinha em Off
é seu livro, mas uma conquista nossa.
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